Quase dois anos de silêncios diários
Quase dois anos aprendendo a rir das minhas tagarelices esquizofrênicas e ressentidas.
Não, meditar não lhe torna a reencarnação de Buda ou Jesus Cristo, não extirpa magicamente de você toda sujeira, dor, incongruência e vícios inerentes à nossa espécie.
O silêncio apenas
reflete, expande, projeta.
Ele nos dá uma boa dimensão da nossa pequenez e fragilidade, arrastando-nos para o centro dos nossos próprios tremores, provando, de uma vez por todas, que o demônio do mundo está DENTRO de cada um de nós, sem uma única exceção.
E é justamente por isso que a maioria se dopa
com trabalho, sexo, companhias, casamento, filhos, diplomas, viagens
(e não simplesmente com drogas ilícitas)
Mas o silêncio também cura à medida que nos rendemos a ele e às suas revelações.
Ele também fortalece, apazigua, edifica
Acentuando
todas as nossas fragrâncias e riquezas interiores
Desabrochando
a exuberância da nossa unicidade e benevolência.
E com ele constatamos que TUDO passa o tempo todo e que, portanto, ser muito afetado pelo bem e o mal que nos transpassa é pura bobagem.
Um dia
fomos um grão de areia, depois um embrião, um feto, um bebê.
Passamos pela infância, adolescência;
alguns já atingiram a maturidade, outros se encaminham para o fim da vida;
e quem nós somos afinal?
Qual forma é a definitiva se da primeira ultrassonografia até os dias de hoje a única permanência foi que nos tornamos sempre outros e outros e outros?
Quem somos de fato?
Não somos NADA!
Não somos NINGUÉM!
Apenas ESTAMOS
num processo finito e insistente de vir a ser
nascendo para um ciclo, morrendo para outros
Apenas ESTAMOS
viventes, caminhantes, inseridos
nesta Existência
terminantemente cíclica e mágica
que se chama
ETERNIDADE
Paciência – Lenine
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para
Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora vou na valsa
A vida é tão rara
Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
E o mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência
Será que é tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (Tão rara)
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para (a vida não para não)
Será que é tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (tão rara)
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida é tão rara (a vida não para não… a vida não para)